Mitigação de gases de efeito estufa na pecuária
Os animais ruminantes, como os bovinos, são apontados como um dos vilões responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa (GEE) na pecuária. Mas por que isso acontece?
Os ruminantes possuem estômago dividido em quatro compartimentos: rúmen, retículo, omaso e abomaso (Figura 1). O rúmen (daí a origem do nome ruminante) é uma câmera fermentativa anaeróbica recheada com microrganismos como bactérias, fungos, protozoários e vírus, que são capazes de fermentar o alimento consumido por esses animais, resultando em produtos como os ácidos graxos de cadeia curta (AGCC): acetato, butirato e propionato, que são utilizados direta ou indiretamente para a produção de carne, leite ou lã. Além dos AGCC, a fermentação de alimentos no rúmen resulta na formação de CO2 e H+, que são substratos para a síntese de metano (CH4), um gás com alto potencial de aquecimento global. Além dos gases vindos da fermentação entérica, as fezes e a urina dos animais podem contribuir para emissão de GEE na atmosfera, principalmente de óxido nitroso (N2O).
Figura 1. Compartimentos digestivos de ruminantes e principais produtos da fermentação entérica.
Nesse cenário desafiador, é necessária a adoção de práticas para intensificar a produção e, ao mesmo tempo, reduzir as emissões destes gases gerados pela produção pecuária. A palavra mitigação neste contexto é definida como a intervenção humana para reduzir as emissões de GEE para a atmosfera. É aí que entram em cena os aditivos alimentares.
Aditivos alimentares são substâncias orgânicas ou inorgânicas fornecidas em pequenas quantidades na alimentação animal. Os aditivos utilizados na nutrição de ruminantes são os ionóforos, probióticos, enzimas exógenas, leveduras, 3-Nitrooxipropanol (3-NOP) e compostos secundários de plantas como taninos, óleos essenciais e saponinas. Alguns aditivos podem ser usados para manipular a fermentação microbiana do rúmen de modo a otimizar processos benéficos, podendo reduzir a formação de compostos indesejados, como o gás CH4. Além disso, podem aumentar a eficiência de utilização de nutrientes, reduzindo a excreção de composto nitrogenados nas fezes e urina, consequentemente reduzindo a emissão de GEE na atmosfera. A efetividade em reduzir a síntese de GEE depende da dose e do tipo de aditivo utilizado.
Além dos aditivos alimentares, a intensificação do manejo de pastagens, seja pelo aumento na pressão ou intensidade do pastejo, tem potencial de mitigar as emissões de GEE através da redução da intensidade das emissões de CO2, além de preservação de áreas naturais, reduzindo a necessidade de expansão de pastagens.
Em resumo, os bovinos não são os vilões!
E sim, é possível uma pecuária sustentável, de elevada produtividade e associada à mitigação de GEE.
Referências Bibliográficas
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Zootecnista, Dra. em Ciência Animal